UA

e-portefólio

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Reflexão


A temática abordada nesta unidade foi muito interessante, na medida em que me permitiu reflectir sobre a relação dos media, designadamente das páginas pessoais e dos blogues e da construção da identidade dos jovens (temática crítica para quem trabalha com adolescentes).

Em primeiro lugar e para minha surpresa, o estudo “Gender, Identity, and Language Use in Teenage Blogs” veio desmistificar algumas ideias feitas sobre a diferença de géneros e a construção da identidade na adolescência. Marta refere que “a construção da identidade é considerada a tarefa mais importante da adolescência, o passo crucial da transformação do adolescente em adulto produtivo e maduro.”. Assim, os blogues e as redes sociais apresentam-se como uma extensão da realidade em permitem que se exprimam ideias e opiniões, sem a obrigatoriedade de uma exposição física e sem se estar sujeito aos mecanismos naturais de censura social implícitos numa comunicação presencial. E é precisamente neste contexto da blogosfera que se assiste a um certo esbatimento das diferenças de géneros existentes na vida real. Tal concretiza-se ao nível da linguagem, ao nível da identificação pessoal (dados pessoais), ao nível da utilização dos emoticons e, inclusivamente, do tipo de blogue utilizado. De facto, este foi um dado novo para mim.

Por outro lado, a leitura dos textos disponibilizados para esta actividade levou-me a levantar logo uma questão: Será que em Portugal os nossos adolescentes utilizam os blogues e as páginas pessoais como nos EUA? Esta minha questão prende-se com a constatação de que, em Portugal, poucos jovens têm página pessoal e blogues, por um lado, e que eles utilizam mais as redes sociais, como MSN, Facebook para interagir entre si, por outro.

Resolvi, então, fazer alguma pesquisa e encontrei um estudo que conclui, quanto ao tipo de utilizadores de blogues em Portugal, o seguinte: a maior parte dos utilizadores situa-se entre os 25-39 anos de idade e são maioritariamente professores, jornalistas e estudantes. Estes dados contrariam a ideia de que mais de metade dos bloguistas são adolescentes. Pelo menos em Portugal, esta não será a tendência

Um outro aspecto que gostaria de salientar aqui tem a ver com o facto de, como resultado das minhas pesquisas, ter acabado por confirmar algo de que já suspeitava: os jovens e os adultos estão a substituir os blogues e páginas pelo Facebook.

De todas estas questões dei conta no fórum, onde a discussão foi sempre muito interessante e baseada no respeito mútuo. A partir do debate levantaram-se outras questões relacionadas com a segurança na Internet, utilização dos blogues por alunos para fins escolares, entre outros.


Quanto a dificuldades para realizar esta tarefa, não creio que tenha havido. Se existiu alguma, teve mais a ver com a vontade de participar e responder a todos os comentários dos colegas, mas por vezes, isso não é possível.

Destaco as participações da Zelinda e do José Vasco no fórum sobre a segurança na Internet, que é sempre um tema pertinente quando falamos de jovens,  Internet e redes sociais. A este propósito, a Zelinda partilhou connosco um estudo do  EU KIDS On.




Re: Discussão do Tema 2
por Zelinda Cruz - Sexta, 12 Novembro 2010, 16:28

 
Boa tarde colegas,

As vossas últimas intervenções apontam, de modo geral, num mesmo sentido: a utilização das redes sociais pelos adolescentes e os riscos/perigos a elas associados. Como professores e educadores que, diariamente, lidam com os jovens, estamos, certamente, mais despertos para estas questões. Posso dizer que, na minha escola já desenvolvi, na BE, sessões para alunos de vários anos, sobre "Segurança na Internet”, baseadas precisamente em informações e vídeos facultados pelo Programa Miúdos Seguros na Net. Um outro colega, no âmbito de um Projecto relacionado com a Educação de Pais, também fez uma sessão sobre o mesmo tema para Pais e Encarregados de Educação. Se surtem efeito prático ou não, não sei dizer. Pelo menos ouvir falar, mostrar exemplos e dados estatísticos, talvez ajude. Num estudo muito recente (Primavera de 2010) desenvolvido pela EU KIDS Online, no qual Portugal participou, entre 25 países da União Europeia, obtiveram-se os seguintes dados:

-Portugal é um dos países onde mais crianças e jovens declaram já ter sentido bastantes vezes que estavam a fazer um uso excessivo da internet (49%), muito acima da média europeia (30%). 78% das crianças portuguesas entre 9 e 16 anos usam a internet. As crianças e jovens portugueses estão entre as crianças europeias que acedem mais à internet nos seus quartos (67%) do que noutros lugares da casa (26%), uma diferença mais acentuada do que a média europeia (respectivamente 48 e 37%).

O quarto dos adolescentes é o seu mundo. Aqui passam a maior parte do tempo, quando estão em casa, alguns de porta fechada. Muitos não têm a verdadeira noção dos perigos que se escondem por detrás da criação de um perfil numa rede social. Para além da exposição da sua vida privada, a de terceiros também é posta em causa, nomeadamente na publicação de fotos/vídeos de grupo.

Como já referiram, a prevenção é a melhor atitude. A escola é um meio privilegiado mas não basta e aqui entra em campo a questão colocada pela Soledade: que valores passamos aos nossos jovens? Para mim a questão dos valores é uma árvore com várias ramificações. A sociedade transformou-se abruptamente nas últimas décadas. O exemplo já não vem de cima, vem do lado. Os jovens passam mais tempo com os seus pares do que com a família. O diálogo, as regras, a autoridade, em casa, são por vezes inexistentes.

Temos no entanto que lidar com esta realidade e tentar passar, a cada dia, mensagens positivas aos nossos jovens, que, na sua incessante busca, nem sempre encontram o caminho certo! 

 Até breve ! aprovadoraprovador

 
Re: Discussão do Tema 2
por José Fernando Vasco - Domingo, 14 Novembro 2010, 20:39

 
Zelinda, agradeço a sua última intervenção e a hiperligação que disponibilizou, concretamente o estudo do EU KIDS Online II, deste ano.
Gostaria de contribuir para a discussão geral, articulando duas questões - Internet e processo identitário na adolescência - e apresentando um caso concreto que foi desenvolvido numa turma da minha escola, no passado ano lectivo.
Concordo que a globalização e a extraordinária evolução dos meios de comunicação expandiram o mundo para níveis inimagináveis há 50 anos atrás. A World Wide Web permitiu o acesso a níveis quantitativos de informação espantosos e exponencialmente em crescimento mas, de igual modo, pôs-nos a todos - crianças, adolescentes e adultos - face a uma multiplicidade heterogénea de valores (e tradições, culturas...) pelo que, de acordo com Teresa Schoen-Ferreira (2003) é «[...] necessário educar procurando valores comuns, universais e propor uma educação que considere a dignidade humana.» Penso que as duas questões que enumerei acima só podem ser devidamente entendidas neste contexto.
O estudo que a colega Zelinda aludiu apresenta Portugal (3,7) acima da média europeia (3,1) no que concerne às “digital literacy and safety skills”, embora muito poucos saibam como configurar filtros de navegação. Estes resultados, que colocam Portugal numa das melhores posições ao nível dos 25 países contemplados pelo estudo, não anulam a necessidade de promover iniciativas concretas de defesa do uso racional e protegido da internet. A escola tem um papel importante, decisivo porventura, mas as famílias devem tomar medidas igualmente nesse sentido. Sintomaticamente, Portugal tem aqui um dos seus piores resultados: é o segundo país no acesso pelas crianças e adolescentes à internet a partir de computador no quarto (67%) e não num espaço comum familiar (26%). A média europeia é de 48% e 60%, respectivamente. É fácil concluir que muitos pais portugueses nem sonharão qual o tipo de utilização da internet que os seus filhos fazem.
A localização mais comum de uso da internet é a casa (85%), seguida pela escola (63%).» (PortugalExecSum.pdf, disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/eukidsonline/). As crianças e adolescentes portugueses «aos 16 anos usam a internet para o trabalho escolar (84%); jogam (74%); vêem clips de vídeo (83%); e trocam mensagens instantâneas (61%). São menos as que publicam imagens (38%) ou que partilham mensagens (31%), as que usam uma webcam (29%), sites de partilha de ficheiros (17%) ou blogues (10%).»
O caso que apresento ilustra como o uso da internet e das ferramentas Web 2.0 podem, em contexto escolar, contextualizar o processo identitário de alunos de 16-19 anos e do ensino secundário. No contexto da disciplina de Ciência Política (12º ano), os alunos foram convidados a escolherem uma notícia de relevância nacional e internacional e reflectir sobre ela (e comentando a reflexão dos colegas) num blogue colectivo de turma - Ciência Política - ES Cacilhas-Tejo. Foi interessante verificar que a selecção de notícias feita pelos alunos partiu de critérios bastante díspares mas, no global, revelou três ou quatro conclusões interessantes:
- a escolha de notícias de cariz puramente político partiu de alunos que possuíam ou perfil em rede social, articulado com prática política em juventude partidária, ou apetência já manifestada pela área e que acabou por representar candidaturas a cursos como os de Direito, Relações Internacionais ou Ciência Política.
- outro conjunto de alunos escolheu notícias de forte cariz social ou humanitário - a notícia sobre a situação dos albinos na Tanzânia é reveladora.
- duas alunas escolheram notícias de catástrofes naturais, sendo uma delas originária de uma das regiões afectadas.
- um aluno escolheu uma notícia que claramente estava articulada com o seu próprio processo de auto-conhecimento e definição de orientação sexual: o interessante é que esta foi a notícia mais comentada e debatida pelos colegas.
- facto final interessante é o que os alunos definiram a sua identidade (através de nome) de formas bastante diferentes: primeiro e último nome, iniciais, nickname …
Em suma, a ideia global que defendo é que nós adultos – pais, professores – em contexto familiar ou escolar, temos a obrigação de orientar as crianças e os adolescentes no uso das tecnologias, em geral, e da internet em particular.
A criação de contextos familiares e/ou educativos que potenciem as vantagens do uso da internet, da criação de webpages, Weblogs e da inserção em comunidades virtuais que os ajudem a lidar com o processo identitário tão crucial entre os 13 e os 19/20 anos.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário